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Um olhar equivocado sobre desabamentos com morte em Manaus


Por Raimundo de Holanda

19/01/2025 20h00 — em
Bastidores da Política


  • O vídeo que o vice prefeito Renato Júnior publicou nas redes sociais é cheio de simbolismo. Ao tempo em que busca oferecer auxílio às vítimas que sobreviveram ao desabamento, no bairro Redenção, ele toma um caminho equivocado, marcado por escapismo.
  • Diz Renato que o desabamento ocorreu por causa de uma ligação clandestina de água que tornou o terreno úmido. Estranho que tenha ignorado os 78 milímetros de chuva que caiu ontem sobre a cidade - essa sim, a causa da tragédia.
  • A forma como o vice prefeito se posicionou, culpabiliza as vítimas, o que é lamentável.

 

O inverno é carregado de tragédias que poderiam ser evitadas se o processo de invasão em Manaus fosse contido. De pouco vale passar ano após ano mapeando áreas de risco, se o poder público, sempre sensível à repercussão político eleitoral desfavorável, não age.

O desabamento de um barranco no bairro Redenção, com dois mortos, é um daqueles casos em que a responsabilidade é atribuída às vítimas, agora sem voz, quando o poder publico, que podia prever, acolher, reparar,  não fez o seu papel em tempo oportuno. 

É improvável que o som do silêncio dos que morreram  ou estão gravemente feridos  perturbe as autoridades que se omitiram ao longo dos anos. Mas eles estão gritando no olhar dos vizinhos que observam a tragédias com ar de desespero, fazendo a inevitável pergunta: amanhã, seremos nós?
 
Essas pessoas pobres, esquecidas, são cidadãs, que não invadiram originalmente essas áreas. Compraram terrenos ocupados por uma indústria criminosa que  também trafica e domina extensas áreas da cidade.

O vídeo que o vice prefeito Renato Junior publicou nas redes sociais é cheio de simbolismo. Ao tempo em que busca oferecer auxílio às vítimas que sobreviveram ao desabamento no bairro do Redenção, ele toma  um caminho equivocado, marcado por escapismo.

Diz Renato que o desabamento ocorreu por causa de uma ligação clandestina de água que tornou o terreno úmido. Estranho que tenha ignorado os 78 milímetros de chuva que caiu ontem sobre a cidade - essa sim, a causa da tragédia.

A forma como o vice prefeito se posicionou, culpabiliza as vítimas, o que é lamentável.

Evidentemente que ele está errado. Sua manifestação foi infeliz. Observou a tragédia de forma superficial e apressada, sem assumir o ônus da responsabilidade do poder público, que representa. 

 

 

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ASSUNTOS: chuva forte, Desabamento em Manaus, mortes, temporal

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.