Governo e Congresso interferem sem pudor na liberdade do cidadão
Proibir a utilização de recursos destinados a famílias carentes em apostas já é um passo perigoso. Agora, impedir que aposentados façam apostas com o dinheiro da aposentadoria é um atentado à liberdade de escolha, uma interferência na vida privada do cidadão.
A aposentadoria é resultado de anos de contribuição, não uma dádiva do estado e, portanto, essa interferência fere o direito de empreender, de sonhar. Jogo é, na maioria dos casos, um vício, mas não compete ao estado dizer o que é vício, exceto em se tratando de drogas ilícitas.
Ao interferir no que o aposentado deve fazer com o seu dinheiro, como pretende o governo, é limitar ainda mais a autonomia dos cidadãos, sua autodeterminação, seu direito de escolher como deve gerir recursos que, como já dissemos, não é uma concessão gratuita de um governo claramente extrativista - explicando melhor, destina recursos fabulosos para combater a pobreza, mas faz uso desse exército de desvalidos para se manter no poder.
É uma nova forma de criar currais eleitorais a custa do contribuinte, enquanto perpetua a pobreza e a desigualdade.
A alegação de que as bets estão ganhando bilhões de reais com os brasileiros, especialmente os mais pobres, é culpa de quem ? De uma legislação esdrúxula, sancionada em janeiro deste ano pelo presidente Lula, com o verniz de "trazer segurança jurídica e estabelecer critérios sobre tributação".
Quer dizer, um governo que pensava em arrecadar mais para gastar mal, abriu as portas para centenas de cassinos virtuais. Deu no que deu. Agora culpa os pobres que estão gastando o pouco que têm com jogos.
Uma Mea - culpa faria bem ao governo, sem tirar dos pobres o que eles ainda têm e os mantêm vivos e calmos: a capacidade de sonhar.
No máximo, o governo deveria fazer uma campanha mostrando as possibilidades de ganhos e perdas em jogos e que o melhor é ir ao supermercado... Sem interferir na liberdade do cidadão.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.